Acta Apostolicae Sedis - Commentarium Officiale426

brasileiro. Foi por isso que quis dirigir-me inicialmente a vós, Bispos do

Brasil, evocando aquelas palavras densas de conteúdo da Carta aos Hebreus:

«O Filho de Deus aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve. E

uma vez chegado ao seu termo, tornou-se autor da salvação para todos os que lhe

obedecem ».3 Exuberante no seu significado, este versı́culo fala da compaixão

de Deus para conosco, concretizada na paixão de seu Filho; e fala da sua

obediência, da sua adesão livre e consciente aos desı́gnios do Pai, explicitada

especialmente na oração no monte das Oliveiras: «Não seja feita a minha

vontade, mas a tua ».4 Assim, é o próprio Jesus a nos ensinar que a verdadeira

via de salvação consiste em conformar a nossa vontade à vontade de Deus. É

exatamente o que pedimos na terceira invocação da oração do Pai Nosso: que

seja feita a vontade de Deus, assim na terra como no céu, porque onde reina a

vontade de Deus, aı́ está presente o reino de Deus. Jesus nos atrai para a sua

vontade, a vontade do Filho, e deste modo nos guia para a salvação. Indo ao

encontro da vontade de Deus, com Jesus Cristo, abrimos o mundo ao reino de

Deus.

Nós Bispos somos convocados para manifestar essa verdade central, pois

estamos vinados diretamente a Cristo, Bom Pastor. A missão que nos é

confiada, como Mestres da fé, consiste em recordar, como o mesmo Apóstolo

das Gentes escrevia, que o nosso Salvador « quer que todos os homens se salvem

e cheguem ao conhecimento da verdade ».5 Esta é a finalidade, e não outra, a

finalidade da Igreja, a salvação das almas, uma a uma. Por isso o Pai enviou

seu Filho, e « como o Pai me enviou, também eu vos envio ».6 Daqui, o mandato

de evangelizar: « Ide, pois, ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai

e do Filho e do Espı́rito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis

que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo ».7 São palavras simples e

sublimes nas quais estão indicadas a obrigação de pregar a verdade da fé, a

urgência da vida sacramental, a promessa da contı́nua assistência de Cristo à

sua Igreja. Estas são realidades fundamentais e se referem à instrução na fé e

na moral cristã, e à prática dos sacramentos. Onde Deus e a sua vontade não

são conhecidos, onde não existe a fé em Jesus Cristo e nem a sua presença nas

celebrações sacramentais, falta o essencial também para a solução dos urgen-

3 Hb 5, 8-9. 4 Lc 22, 42. 5 1 Tm 2, 4-6. 6 Jo 20, 21. 7 Mt 28, 19-20.